ENTENDA
MAIS SOBRE DISPENSACIONALISMO PROGRESSIVO
O Dispensacionalismo Progressivo é um movimento
dentro do Dispensacionalismo, um sistema teológico e hermenêutico que surgiu em
meados do século XIX com John Nelson Darby (1800-1882), um ex-clérigo anglicano
que aderiu, e posteriormente tornou-se o líder do movimento dos “Irmãos” de
Plymouth.
O Dispensacionalismo entende que a história está
dividida em “dispensações” ou períodos de tempo nos quais a humanidade é
colocada à prova quanto à obediência a alguma revelação da vontade divina.
Segundo Dr. C. I. Scofield (1843-1921) as dispensações:
Se distinguem nas Escrituras por uma
mudança no método divino de tratar a humanidade, ou parte dela, no que se
refere a estas duas grandes verdades – pecado e responsabilidade humana. Cada
Dispensação pode ser considerada como uma prova para o homem natural e termina
sempre em juízo, demonstrando assim o seu completo fracasso. Cinco dessas
dispensações, ou períodos já se consumaram. Estamos vivendo na sexta, cujo
término, segundo tudo faz crer, está para breve. A sétima ou última, ficará
para o futuro – É o Milênio.
Há certa discordância entre os dispensacionalistas
quanto a quantas seriam as dispensações, seguindo o modelo proposto por
Scofield, o mais popular, teremos:
1) Da
Inocência – de Adão à sua expulsão do Éden.
2) Da
Consciência – da expulsão do Éden ao Dilúvio.
3) Do
Governo Humano- do Dilúvio à confusão de línguas.
4) Da
Promessa – de Abraão à escravidão no Egito.
5) Da
Lei – do Sinai à expulsão de Canaã.
6) Da
Graça – da morte de Cristo até o arrebatamento.
7) Do
Reino – da Segunda Vinda de Cristo até o Juízo Final.
Para o Dispensacionalismo essa periodização da
história é essencial à correta interpretação da revelação divina dentro das
diversas dispensações.
Quanto à hermenêutica, o Dispensacionalismo defende
o literalismo estrito. Diz Charles Ryrie:
Os dispensacionalistas reclamam para si a posição
de interpretação literal na hermenêutica.
E embora não asseverem exclusividade quanto ao
método hermenêutico, dizem que são os únicos que o fazem de modo “consistente”,
nas palavras de Ryrie:
É claro que a interpretação literal
não é propriedade exclusiva dos dispensacionalistas. A maioria dos
conservadores concorda com o que acabamos de dizer. Qual é, então, a diferença
entre o uso deste princípio hermenêutico pelo dispensacionalista e pelo não
dispensacionalista? O dispensacionalista diz usar o princípio norma de
interpretação consistentemente em todo seu estudo da Bíblia.
Ainda afirma que o não dispensacionalistas não o utiliza este princípio em
tudo. Admite que o não dispensacionalista seja literalista em boa parte de sua
interpretação bíblica, mas o acusa de alegorizar ou espiritualizar quando chega
na interpretação da profecia. O dispensacionalista procura ser consistente na
utilização deste princípio e acusa o não dispensacionalista de ser incoerente
em seu uso do mesmo.
A visão dispensacional da história aliada a uma
hermenêutica literalista favorece, segundo o dispensacionalista, uma rígida
distinção entre Israel e a Igreja. Comenta Roy B. Zuck:
Aceitar os termos Israel e Igreja em
sentido normal, literal equivale a conservar sua distinção. Israel sempre
significa o Israel étnico, nunca se confundindo com o termo Igreja, nem as
Escrituras jamais empregam Igreja em substituição ou como sinônimo de Israel.
Assim, para o dispensacionalista, as promessas
feitas a Abraão e sua descendência esperam cumprimento literal no Israel
nacional. A Igreja não foi prevista no Velho Testamento, ela é um parêntese
entre a sexagésima e a septuagésima semanas de Daniel, ela tem uma natureza
distinta da de Israel e Deus tem um programa diferente para ela.
Outra das distinções dispensacionalistas é entre
“reino de Deus” e “reino dos céus”. Para o dispensacionalista, o reino dos céus
é judaico, messiânico e davídico, sua implantação foi suspensa pela rejeição de
Israel e será realizado no milênio. Já o reino de Deus diz respeito à Igreja e
é universal e inclui os que em todas as dispensações se submetem a Deus.
Entre as marcas distintivas do Dispensacionalismo
esta a defesa de um arrebatamento secreto e pré-tribulacional. No
Dispensacionalismo a segunda vinda de Cristo esta dividida em duas fases, a
primeira é para a Igreja, e se dará de modo secreto e antes (pré) da
tribulação. A segunda fase será visível e inconfundível, pois Cristo mesmo,
acompanhado dos seus santos descerá no monte das Oliveiras sete anos após o
arrebatamento, para salvar Israel das mãos dos seus inimigos e instaurar o
Milênio.
Essa nova doutrina com sua ênfase escatológica
captou a atenção do povo e tornou-se muito popular. Tanto Darby quanto seus
discípulos, mas especialmente C. I. Scofield se esforçaram na divulgação do
dispensacionalismo de modo que em poucos anos se tornou tão popular que em
tempos mais recentes foi virtualmente confundido como “ortodoxia”. Dr. Millard
J. Erickson diz que:
Por causa de a ascensão do
dispensacionalismo ter sido aproximadamente paralela àquela do movimento
fundamentalista, ficou sendo virtualmente a teologia oficial do
fundamentalismo. Alguns comentaristas praticamente identificaram os dois. ...
Alguns fizeram dele um teste de ortodoxia, considerando que uma pessoa que não
sustenta todos os seus aspectos é alguém que nega a própria Escritura. Em
muitos casos, trata-se de uma atitude mental total ou coletânea de atitudes.
Dois outros fatores colaboraram para a difusão do
Dispensacionalismo e para que fosse erroneamente tomado como um sinônimo para
padrão de ortodoxia. O primeiro foi o fato de Cyrus I. Scofield ter juntado ao
texto bíblico notas de rodapé que expunham tal ponto de vista. No passado havia
poucas Bíblias com “auxílio” e nem todos podia adquirir um comentário bíblico,
a Bíblia anotada por Scofield era um recurso indispensável, especialmente para
os pregadores leigos. João Alves dos Santos cita William E. Cox, que diz que:
...se Scofield tivesse colocado suas
anotações em um livro separado e não na própria Bíblia, certamente que seus
livros estariam agora, como os de Darby, ajuntando pó nas estantes. Mas o fato
de ter associado o seu nome ao de Paulo e ao de Pedro, pela audácia de colocar
suas notas pessoais nas mesmas páginas sagradas que trazem os escritos daqueles
autores inspirados, garante-lhe a imortalidade. E, conclui Cox, “na mente de
alguns dos seguidores de Scofield, discordar dele é o mesmo que discordar de
Paulo ou de Pedro”.
O segundo fator da propagação do Dispensacionalismo
está no fato de ser especial e estranhamente propagado pelo movimento
pentecostal. Desde que o movimento pentecostal tem crescido, tem igualmente
propagado o Dispensacionalismo. Muito embora o dispensacionalismo seja cessacionista
ou antipentecostal o movimento pentecostal é, estranhamente, um dos seus
maiores propagadores.
Mas é bom que se diga que o Dispensacionalismo não
é monolítico. O movimento tem sofrido diversas mutações ao longo do tempo.
Ethelbert W. Bullinger (1837-1913), por exemplo, levou o sistema às últimas
consequências e deu origem ao “ultradispensacionalismo” ou bullingerismo.
Segundo Charles Ryrie Bullinger:
em seu esquema dispensacional sétuplo
Bullinger tinha duas dispensações entre Pentecostes e o final da era da igreja.
Ele colocou os Evangelhos e o Livro de Atos debaixo da Lei e começava a
dispensação da igreja com o ministério de Paulo após Atos 28:28. As Epístolas
da prisão, portanto, Efésios, Filipenses e Colossenses – expunham a plenitude
da revelação do mistério da era da igreja. Ele negava também que o batismo em
água e a ceia do Senhor fossem para nossa época.
E dentro mesmo do ultradispensacionalismo, dois
grupos podem ser identificados, um deles mais extremado foi representado por
Charles H. Welch (1880-1967), que achou três dispensações em Atos e por A. E.
Knoch (1874-1965), que via quatro dispensações entre Cristo e o ministério de
Paulo. O segundo grupo, mais moderado, estava ligado à Grace Gospel Fellowship
e Berean Bible Society e teve como nomes mais conhecidos Cornelius R. Stam,
J.C. O’Hair e C. F. Baker. Esse grupo defende a idéia de que a Igreja começou
com o ministério de Paulo, não no Pentecostes, mas observam a ceia e o batismo.
Alguns ajustes também foram efetuados por aqueles
que seguiram a proposta original de Darby. C. I. Scofield (1843-1921), por
exemplo, em suas notas de rodapé que juntou ao texto bíblico [Scofield
Reference Bible] não seguiu o modelo darbysta de dispensações. Scofield junto
com Lewis S. Chafer (1871-1952), fundador do Seminário Teológico de Dallas,
representam o chamado Dispensacionalismo “clássico”. Até a década de 60 os
dispensacionalistas clássicos defendiam a tese de que o plano de Deus para com
Israel era puramente terreno e para a igreja, puramente celestial, tinham dois
modos de salvação [obras no VT e fé no
NT] e dois pactos. Nesse primeiro período os dispensacionalistas haviam
enfatizado mais as próprias dispensações.
No entanto John F. Walvoord (1910-2002), Charles
Ryrie, assim como J. Dwight Pentecost introduziram mais algumas modificações ou
revisões, a partir de 1960. De modo geral, para eles Israel e a igreja se
juntarão após o período milenial, haverá um só modo de salvação em ambos os
Testamentos e um só Pacto. Alguns chamam este período de
“neodispensacionalismo”. A ênfase mudou das dispensações, do primeiro período,
para a defesa [justificação] de que o Dispensacionalismo é fruto de uma
hermenêutica literal.
Na década de 80 um grupo de dentro do
Dispensacionalismo começou a promover algumas mudanças mais significativas no
movimento. Mas só em 1991 é que a nomenclatura “Dispensacionalismo Progressivo”
passou a ser usada numa reunião do Grupo de Estudos Dispensacionais na
Sociedade Teológica Evangélica de Atlanta, Geórgia. O teólogo aliancista
Franklin Ferreira comenta:
As características mais
significativas desta revisão do Dispensacionalismo são a ênfase sobre o caráter
progressivo das dispensações e a presente inauguração das bênçãos escatológicas
do reino messiânico, que culminará no milênio e no estado eterno.
Os principais promotores dessa nova modalidade de
Dispensacionalismo foram os professores Darrell L. Bock, Craig A. Blasing,
ambos do Seminário Teológico de Dallas, e Robert Saucy, do Seminário Teológico
Talbot. Pelo menos três obras expondo essa modalidade de Dispensacionalismo
foram publicadas, Dispensationalism, Israel and the Church (1992), Progressive
Dispensationalism (1993) ambos de Bock e Blaising e The Case for Progressive
Dispensationalim (1993), por Robert Saucy. No Brasil, a Coleção Debates
Teológicos, da editora Vida, tem dois livros que expõem esse ponto de vista, As
Interpretações do Apocalipse, organizado por C. Marvin Pate e O Milênio,
organizado por Darrel L. Bock.
Os dois últimos períodos do Dispensacionalismo têm
em comum o fato de se introduzirem numerosas e significativas revisões ou
ajustes ao sistema. No entanto, no terceiro período esse ajuste foi, digamos,
muito mais radical e isso a ponto de colocá-lo para fora das fronteiras do Dispensacionalismo,
pelo menos na opinião dos Dispensacionalistas clássicos ou normativos. Como diz
Robert L. Thomas:
...o dispensacionalismo progressivo
representa uma mudança significativa nos princípios interpretativos, de forma
que o nome “dispensacionalismo” não se aplica a esse sistema.
Esse ajuste, segundo se pensa, é por conta da
aproximação entre teólogos dispensacionais com a teologia aliancista. Kenneth
L. Gentry Jr. declara:
Como o dispensacionalista Feinberg
observou há uma década, o dispensacionalismo está tomando o rumo mais
aliancístico, permitindo uma maior continuidade entre os Testamentos. Como
cristão pactual, aplaudo essa orientação.
Dessa maneira o Dispensacionalismo Progressivo
parece representar um meio termo entre a teologia das alianças [ou reformada] e
o dispensacionalismo. Isso para Charles Ryrie, que faz coro com Robert L.
Thomas, representa “um sistema novo” que não deve ser considerado mais
dispensacionalismo.
Vejamos alguns pontos de convergência e divergência
entre o Dispensacionalismo normativo e progressivo.
AS DISPENSAÇÕES
Tanto Dispensacionalistas normativos quanto
progressivos entendem a história dividida em dispensações. Mas os dispensacionalistas
progressivos, segundo Ryrie, entendem que há apenas quatro dispensações
claramente assinaladas na Bíblia diferente do Dispensacionalismo clássico ou
normativo, que postulam pelo menos sete delas. A primeira dispensação é a Patriarcal,
que vai da criação ao Sinai. A segunda, chamada Mosaica abrange o
período que vai de Moisés ao Messias. A terceira inicia-se com a ascensão e
deve durar até a segunda vinda de Cristo, é a dispensação da Igreja ou
da Graça. A quarta é a Siônica que deve iniciar-se com o Milênio,
sendo que o fim deste período áureo deve representar uma secção na dispensação
que prosseguirá para a eternidade.
Além disso, os progressivos definem as dispensações
de maneira diferente da dos normativos como demonstra Ryrie, citando Craig
Blaising, um progressivo:
Não apenas como arranjos diferentes
entre Deus e a humanidade, mas como arranjos sucessivos na revelação
e realização progressiva da redenção.
Em outras palavras, os progressivos entendem que as
dispensações são interligadas, devem ser interpretadas numa perspectiva
progressiva cujo princípio unificador é cristológico, ou seja, sua ênfase está
em Cristo e no entendimento do reino messiânico como “já/ainda não” cumprido.
Charles Ryrie, um dispensacionalista normativo,
objeta que não haja uma dispensação pré-Queda, visto que a tratativa de Deus
com os nossos primeiros pais foi diferente. Depois, entende que uma dispensação
que abarque todas as condições pré e pós Queda e ainda a aliança abraâmica
parece um arranjo “artificial”. Estranha ainda que a segunda dispensação
termine com a ascensão de Cristo e não com sua morte, para ele esse arranjo foi
necessário porque segundo os progressivos, a ascensão inaugura o reinado do
Messias no trono de Davi no céu. Por fim, observa que a quarta dispensação,
subdividida em Milênio e eternidade, e isso significa que os progressivos
entendem o milênio como um reino intermediário entre o reino davídico já
inaugurado e a plenitude do reino de Deus sobre a nova terra e que a própria
eternidade é uma dispensação, como alguns dispensacionalistas do passado.
Assim, para Ryrie, os progressivos estão mais para o aliancismo que para
dispensacionalismo e comenta que a:
colocação do Milênio e da Nova Terra
juntos numa dispensação que engloba tudo, não é de admirar que um teólogo
aliancista, Vern Poythress, tenha, conquanto reconheça que não fala por todos,
concluído que “desde que somos capazes de tratar a questão da relativa
distinção de Israel no milênio como um problema menor, não restam áreas
substanciais de discórdia entre o dispensacionalismo progressivo e a teologia
aliancista.
Vê-se, pois, que Ryrie insiste em um distanciamento
do Dispensacionalismo normativo por parte dos progressistas.
A HERMENÊUTICA LITERAL
Um dos principais distintivos do sistema
dispensacional é a defesa de uma interpretação literal das Escrituras.
Charles Ryrie diz que a interpretação literal das Escrituras não é propriedade
exclusiva dos dispensacionalistas, mas ao mesmo tempo diz que o
Dispensacionalismo normativo é o único que usa o método literal de modo
“consistente”, como já mencionei pouco atrás. Isso define não só os outros
pontos de vista, mas também o Dispensacionalismo Progressivo como
“inconsistente” com a hermenêutica literal. De fato diz Charles Ryrie:
os dispensacionalistas progressivos
estão claramente se distanciando da hermenêutica coerentemente literal do
dispensacionalismo normativo.
Os progressivos são acusados pelos normativos de
defenderem uma hermenêutica “completar”. Robert L. Tohmas assinala:
Se seguir o caminho de seus primeiros
defensores, uma abordagem dispensacionalista progressiva postulará tanto uma
compreensão literal quanto adicional. Referida como “hermenêutica complementar”
ou “método teológico gramático-histórico-literário”, essa abordagem permite ao
intérprete pelo menos duas compreensões do texto: uma gramático-histórica e
outra simbólica ou alegórica.
Para Charles Ryrie tal método é para justificar da
concepção “já/ainda não”:
A fim de dar uma base hermenêutica
para determinadas interpretações dos progressistas (por exemplo, Cristo está
agora sobre o trono de Davi no céu, e a não distinção entre Israel e a igreja)
eles introduziram o que chamam de hermenêutica complementar. Com isso querem
dizer que o Novo Testamento introduz mudanças e avanços; não apenas repete a
revelação do Antigo Testamento. Ao fazer acréscimos complementares, porém, não
coloca em risco as antigas promessas. A mudança não é à custa da promessa
original. A primeira sentença de sua definição abre a porta para a sua visão
“já, mas ainda não” do reino davídico. As últimas duas sentenças os mantêm não
amilenistas.
De fato, a chave hermenêutica do Dispensacionalismo
progressivo é o entendimento da tensão do “já/ainda não”. Diz C. Marvin Pate diz que:
Para um dispensacionalista
progressivo, a chave hermenêutica ao Apocalipse (e, quanto a esse assunto, o NT
em geral) é a tensão escatológica do já/ainda não.
Com isso os progressivos querem dizer que o reino
de Deus foi inaugurado, mas não consumado. Entendem que o “já” é o reinado
presente de Cristo no céu em cumprimento da aliança davídica [assim o trono de
Davi e o trono celeste, onde o Senhor Jesus está à destra de Deus é uma e a
mesma coisa] e o “ainda não” será o seu reinado futuro no Milênio.
A crítica dos normativos aos progressivos é que
esse entendimento é fruto de uma hermenêutica não “consistentemente literal” e
representa uma aproximação ao posicionamento aliancista. Renald E. Showers
declara:
Tal perspectiva, em essência, é a
mesma dos teólogos aliancistas que se denominam pré-milenistas históricos. No
que diz respeito a isso, o Dispensacionalismo Progressivo dá um passo na
direção da Teologia Aliancista, afastando-se do Dispensacionalismo tradicional
(posição em que cremos), o qual afirma que nenhum aspecto do futuro Reino de
Deus, predito no Antigo testamento, se encontra presente agora e não se
manifestará até que Cristo volte á terra na Sua segunda vinda após a grande
tribulação.
De fato o conceito “já/ainda não” é partilhado por
amilenistas e especialmente por pré-milenistas históricos
[pós-tribulacionistas] e representa mesmo um distanciamento do
Dispensacionalismo clássico ou normativo. No entanto, esse modo de entender o
reino como “já/ainda não” não é inconsistente com uma hermenêutica literal e
pré-milenista, pois ninguém melhor do que George Eldon Ladd, que era um
pré-milenista histórico, demonstrou isso. Seja como for, o que parece é que
esse arranjo do Dispensacionalismo Progressivo funcionou como um botão ejetor
do movimento de origem.
DISTINÇÃO ISRAEL E IGREJA
O Dispensacionalismo normativo insiste numa distinção
rígida entre Israel e Igreja, que para Ryrie indica se alguém é ou não um
dispensacionalista, diz ele que:
Esta é provavelmente a prova
teológica mais básica de uma pessoa ser ou não dispensacionalista, e sem dúvida
é a mais prática e conclusiva. É inevitável que quem falha em distinguir Israel
e a Igreja coerentemente não terá distinções dispensacionalistas; do contrário
daquele que as distingue.
Pois bem, o arranjo dispensacional progressivo,
como já vimos, diminui consideravelmente essa distinção. Para os progressivos,
judeus fiéis do Velho Testamento e a Igreja do Novo Testamento formam o povo de
Deus. No entanto, Robert Saucy, um progressivo, deixa claro que:
essa unidade fundamental em relação a
Deus mediante Cristo não remove a distinção de Israel como nação especial
chamada por Deus... nem define todo o povo de Deus como sendo Israel, exigindo
que a Igreja de alguma forma seja o “novo Israel”.
Mas os Dispensacionalistas normativos insistem em
que essa distinção é cada vez menos nítida, fruto da sua aproximação com a
teologia aliancista.
O que colabora para diminuir ainda mais a distinção
entre Israel e Igreja é que os progressivos também afirmam que o caráter de
“mistério” da igreja (Ef.3:4-6) não significa que não tivesse sido revelado no
VT, mas que apenas não tinha sido realizado, ao contrário do que afirmam os
Dispensacionalistas normativos. No entanto, Robert Saucy, um progressivo,
ressalta
embora concordemos com o não
dispensacionalista que o ensino de Paulo sobre o mistério da Igreja na união de
judeu e gentio em Cristo é um cumprimento das predições do Antigo Testamento,
devemos nos apressar para acrescentar que esses cumprimentos não requerem que
compreendamos todas as profecias relacionadas à salvação e ao reino messiânicos
como sendo ali cumpridos.
Esse modo de entender é resultado de uma posição
mediadora entre o Dispensacionalismo normativo e os não dispensacionalistas,
amilenistas e pré-milenistas históricos.
Ainda sobre a questão da igreja os progressivos não
a vêem como um parêntese, como o Dispensacionalismo normativo. Ryrie diz que o
“dispensacionalismo clássico usa as palavras “parêntese” ou “intervalo” para
descrever a distinção da igreja em relação ao programa de Deus para Israel
(conforme ensinando na profecia de Daniel das setenta semanas, Dn. 9:24-27).
Como os progressivos não vêem a igreja como um parêntese, entendem-na como
imersa no conceito de reino, isto é, como uma inauguração do reino vindouro.
É verdade que os progressivos diminuem
consideravelmente a distinção entre Israel e a Igreja a ponto de torná-la
indiscernível e seguindo o raciocínio de Ryrie, não devem ser considerados a
rigor como dispensacionalistas. Portanto, esse conceito dos progressivos
novamente os lançou fora das fronteiras dispensacionais.
PRÉ-TRIBULACIONISMO E O MILÊNIO
Dispensacionalistas normativos e progressivos ainda
insistem numa segunda vinda de Cristo antes da grande tribulação e num reino
milenar literal. Ryrie, no entanto, acusa os progressivos de não darem a devida
atenção a esses aspectos da escatologia. Isso pode muito bem ser um reflexo do
afastamento das bases do Dispensacionalismo normativo.
Embora Charles Ryrie faça um esforço hercúleo para
defender um arrebatamento secreto e pré-tribulacional como fruto de uma
interpretação literal das Escrituras, a fonte de tal ensino dispensacional é
sabidamente extrabíblica. Tal coisa teve origem em um enunciado profético de
uma jovem chamada Elizabeth McDonald, na igreja de Edward Irving, que Darby,
que estava presente junto com outros líderes do movimento dos Irmãos, aceitou
como a voz do Espírito e posteriormente o sistematizou. Esse fato é mencionado
por Dr. Martyn Lloyd-Jones, Dr. G. E. Ladd, Dr. M. J. Erickson entre outros respeitáveis teólogos.
Tal “novidade” quando introduzida no movimento dos
Irmãos causou certa polêmica visto que sustentavam inicialmente uma perspectiva
pós-tribulacional, isso levou a contendas que culminaram com a divisão do
grupo.
O fato é que qualquer um que faça um estudo sério
do assunto notará que não há nenhum apoio explícito das Escrituras a essa
posição e terá dificuldades em mantê-la, a não ser é claro que insista em
ignorar o testemunho bíblico e seguir na linha do dispensacionalismo, normativo
ou progressivo.
Mas Ryrie tem razão, os progressivos não dão a
devida atenção ao pré-tribulacionismo, diz ele:
Sem negar o arrebatamento
pré-tribulação ou período literal de tribulação, os revisionistas não dão muita
atenção a esses aspectos da escatologia. Blaising e Bock não tomam
oportunidades óbvias de mencionar o arrebatamento e em um lugar (ao discutir 1
Ts.5) eles dizem apenas que o arrebatamento “parece que seria
pré-tribulacional”.
Na sua exposição do Apocalipse sob a ótica do
dispensacionalismo progressivo, C. Marvin Pate não deixou lugar para um
arrebatamento pré-tribulacional. O mesmo aconteceu com Craig A. Blaising, outro
progressivo, que ao tratar do Apocalipse, especialmente do Milênio, fez um
arranjo que desprezou o arrebatamento secreto e pré-tribulacional, um fato
notado por Kenneth L. Gentry Jr,um pós-milenista, que na sua réplica ao ensino
progressivo assinalou:
Onde está o arrebatamento da igreja
pré-milenar e pré-tribulacional nessa “estrutura básica”? Nada no Apocalipse –
e especialmente na seção preferida de Blaising, os capítulos 19-20 – sugerem um
arrebatamento. No melhor dos casos, ele é uma premissa omitida desde cedo no
Apocalipse.
Quanto ao milênio, os progressivos alinham-se como
pré-milenistas, mas o seu milênio tem um sabor menos judaico que o do
dispensacionalismo normativo. Bock declara:
Os progressistas vão um passo além
dos pré-milenaristas históricos, argumentando que o reino milenar antecipa uma
estrutura administrativa em que o Israel nacional assume, novamente um lugar
central como o lar do Messias reinante, em meio às nações que também respondem
ao Cristo. Os progressistas não discutem esse ponto de tal modo a negar a
igualdade fundamental entre judeu e gentio diante dos benefícios da salvação.
Assim, eles falam abertamente, como outros dispensacionalistas o fazem, de um
futuro para Israel nacional entre as nações no milênio. É esse detalhe que
torna dispensacional uma visão pré-milenarista.
Outro ponto importante quanto ao milênio é que os
progressistas não são tão apegados a duração do Milênio quanto os normativos.
É inegável que os dispensacionalistas clássicos
consideram o Dispensacionalismo progressivo como um corpo estranho, e não o
veem com bons olhos. Para os dispensacionalistas normativos, o
Dispensacionalismo progressivo já demonstra ser mais que um desenvolvimento
dentro do ensino do Dispensacionalismo normativo, isso porque eles consideram
as suas mudanças radicais demais. Há um nítido afastamento do
Dispensacionalismo normativo e Walter A. Elwell, fazendo uma avaliação positiva
do novo movimento, pensa que:
esse dispensacionalismo mais novo parece
tanto com o pré-milenismo não dispensacional [histórico] que temos de lutar
para ver qualquer verdadeira diferença.
Mas, muito embora os progressivos tenham
aparentemente se livrado da arrogante alegação de sua consistente literalidade,
ainda mantém, mesmo que tênue, a distinção Israel e Igreja. Além disso,
sustentam ainda a famigerada e extrabíblica doutrina de um arrebatamento
secreto e uma vinda pré-tribulacional. Quanto a isso, me ocorreu o interessante
fato narrado por Harald Schaly sobre Rowland Bingham, antigo editor do
Evangelical Christian e da London Intermission:
Minha esposa pôs a funcionar nosso
maquinismo investigativo, quando perguntou: ”Rowland, donde, na Bíblia, vem a
idéia de um arrebatamento secreto? Eu tenho que ensinar minha classe de moças
no domingo vindouro, sobre a segunda vinda de Cristo, e andei procurando alguma
evidencia bíblica para isso”. E eu, sem hesitar, respondi: 1 Tess.4:14-17. Ela,
porém, disse: “Eu acabei de ler isto, mas parece-me que aí é indicado que a
volta de Cristo e o arrebatamento serão as coisas mais ruidosas, segundo diz a
Bíblia, porque se fala em grande brado, voz de arcanjo e som de trombeta”. Eu
tentei justificar, dizendo que Enoque é tipológico disso, por ter sido
arrebatado ocultamente. A isto ela me deum um “knock-out” que me abateu:
“Rowland, você sabe que não se pode basear uma doutrina só num caso
tipológico”. Estando minha esposa inconformada, eu disse: “Todos os meus
professores afirmaram que o grego faz diferença entre arrebatamento oculto da
Igreja e a manifestação visível de Cristo ao mundo. A palavra epiphaneia
sempre se refere ao retorno de Cristo com sua igreja, enquanto parousia
sempre indica o arrebatamento”. Minha cara metade, porém, queria conferir este
dois termos gregos, e eu tive que trazer minha Concordância de Young e procurar
os textos bíblicos em que aparecia a palavra parousia, e isto fez
estourar a teoria do arrebatamento secreto tão estrondosamente que me senti
envergonhado de ingenuidade com que havia aceito as tais “autoridades”.
E essa, sem dúvida alguma, pode ser a experiência
de qualquer crente que se disponha a investigar o assunto.
Certamente o Dispensacionalismo progressivo deverá
sofrer algumas reformulações ou ajustes, mas se continuar na atual trajetória
dois caminhos estão à sua frente, amilenismo ou pré-milenismo histórico, mais
provavelmente. Em qualquer uma dessas direções o Dispensacionalismo progressivo
há de livrar-se do peso de sustentar, entre outras coisas, contra as
Escrituras, a tese de uma segunda vinda secreta e pré-tribulacional.
Excelente estudo. Muito elucidativo. Parabéns.
ResponderExcluirOlá, você poderia pelo menos reconhecer a fonte deste estudo que é de minha autoria não é mesmo?
ResponderExcluirOlá seu ladrão, você não é cristão, você é uma fraude. Este artigo pertence a Silas Roberto Nogueira seu plageador barato. Isso constitui crime, faça o mínimo e reconheça a fonte de onde você furtou.
ResponderExcluirRetire esse artigo plageado do ar seu ladrão, esse artigo não te pertence, você furtou e não atribuiu fonte e agiu como se fosse teu, ladrão!
ResponderExcluir